quinta-feira, 9 de agosto de 2012

As dúvidas de um cidadão




Em nosso primeiro post sobre a situação da saúde em nossa cidade apareceu a questão da universalização da saúde, questão constitucional e de direito fundamental das mais importantes.
Deste questionamento houve já quem perguntasse, reconhecendo a inconstitucionalidade do decreto da presidente, como sustentar o sistema universal de maneira equilibrada. O problema seria o custo elevado dos tratamentos médicos e dos medicamentos, o que inviabilizaria o custeio do sistema pelo setor público.
É importante assinalar principalmente, quando tratamos com profissionais do direito, da saúde, ou seja, nossos interlocutores, estes são preocupados para além de uma simples campanha política, que entre as competências comuns da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, sobressai aquela que especifica a obrigação de “cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência” (Constituição Federal de 1988; Art. 23, II).
Como estamos num momento de campanha municipal precisamos atentar que ao município compete “prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população” (Constituição Federal de 1988; Art. 30, VII).
Mas é imperioso notar que em seção específica da Constituição (Art. 196 a 200) a concepção de saúde é ampliada, o Sistema Único de Saúde (SUS) é instituído e colocado como direito fundamental que preserva a dignidade humana e onde os princípios de seu financiamento são estabelecidos.
Quando tratamos do financiamento da saúde assinalaremos que em inúmeros países do mundo, parcela significativa das despesas com saúde não recai sobre o setor público.
Em nosso país, o financiamento público da saúde, enquanto tema de discussão política da área de Saúde Coletiva, enfrenta sempre a questão do volume de recursos, da distribuição e da magnitude da arrecadação pelos entes que compõe o pacto federativo brasileiro.
Daí começamos a perceber porque há limitações nos recursos, pois no que tange à arrecadação de receitas públicas, no período de 1930 a 1962, o governo  federal concentrava entre 59% e 51% da arrecadação, o nível estadual entre 30% e 42% e o nível local entre 12% e 5%. Isto só fez piorar, porque em 2005 com a crescente concentração da arrecadação de tributos pelo governo federal em contribuições, a arrecadação hoje está dividida com 67,8% para a União, 26,7% para os Estados e apenas 5,5% para os municípios, onde temos a prestação efetiva dos serviços de saúde.
Assinale-se que entre esses dois recortes temporais, seis Constituições (1934, 1937, 1946, 1967, 1969 e 1988) e dois golpes de estado (1937 e 1964) ajudaram a conformar o modelo de “federalismo fiscal à brasileira”, o que quer dizer centralização da arrecadação, distanciamento do cidadão, amplificação do poder político das esferas governamentais federais e por tal, desperdícios, ineficácia e ineficiência, com perda da capacidade de prover as necessidades da população. Os municípios hoje, que tratam diretamente com o cidadão, são os indigentes do orçamento público.
Nossos médicos, em Curitiba, recebem menos de 40% do que produzem para o SUS, porque têm de sustentar uma máquina que visa a reprodução política do modelo vigente. A contenção dos gastos na saúde é realizada para inviabilizar o atendimento humano, a sua universalização e se utiliza do argumento da falta de recursos para a justificação da pletora da demanda e da negação dos serviços e bens indispensáveis.
Sim, realmente paraguaios e bolivianos vêm ao Brasil fazer vários tratamentos médicos, até as cirurgias de alteração de conformação sexual, e as gastroplastias. Mas este é o ônus de um país grande, como tem os EUA com o México ou a Europa com o Magreb. Este não é um problema fundamental porque a dignidade humana muitas vezes exige o sacrifício de todos, independente de sua nacionalidade. O problema está, como aconteceu no Paraná, de o governante anunciar em sua reeleição que irá inaugurar 11 novos hospitais e eles não existirem mais que apenas em seus sonhos, em seus discursos e nas planilhas de gastos do governo e dos caixas 2 de campanha!
O que foi a história do Hospital do Idoso?
A solução não está no Dr. Laércio, está na população que se interessa por este debate, que questiona os governantes, que reconhece os mentirosos, propagandistas e dilapidadores da coisa pública, que se enoja quando a Câmara de Vereadores aprova contas, onde os percentuais com saúde são inferiores aos legalmente exigidos, fazendo apenas a menção de que as contas são aprovadas com ressalvas.
Contas aprovadas com ressalvas são sem-vergonhices, quando a Câmara apenas se presta a referendar tudo que o Executivo faz! Temos de dar um basta como comunidade, temos de lutar pela inversão da destinação da arrecadação e vencer a praga de presidentes imperiais!
Uma homenagem ao Renan Yudi Tesuka!

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